segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A passagem

Don Vito Corleone acordara. Como sempre, sem despetador e pontualmente às 6 (seis) horas da manhã. Hoje, especialmente, estava sentindo o ar diferente, como se fosse transcorrer um dia de mudanças. Parecendo um verdadeiro fantasma, ele deslizou até o quintal de sua casa, onde encontrava-se sua horta, e passou a irrigar seus pimentões, tomates e pimentas. Essa experiência reatara sua fama de 'camponês mafioso'; porém ele não se importava, esse trabalho o fazia relembrar sua infância, seu pai, seu país, sua Itália, o fazia relembrar suas origens.
Algo começou a incomodá-lo e logo percebeu que o sol estava lhe fazendo suar, o que tinha pavor... Começou a desvairar-se, imaginando e sentindo o mesmo cada vez mais perto de si, mais próximo, mais próximo, mais próximo, a ponto de lhe queimar o corpo, a mente, a alma. As partículas do ar dançavam freneticamente a seus olhos. Subitamente, soube que sua hora chegara...
Durante 68 (sessenta e oito) anos ele fora 'Capo dei Capi', o mandante da morte. Mas agora, ela iria levar-lhe consigo a caminho do desconhecido. Talvez ele fosse o único homem que nunca a temera e que sempre estivera pronto para que ela o dominasse. Ao longe, já podia visualizá-la, em forma de mulher... não podia ver suas feições. A mesma, usava uma capa preta e tinha longos braços, cada vez mais perto dele, emanando serenidade.
E, inesperadamente, antes que ela o tomasse nos braços, ele afirma gentilmente: 'Ah, a vida é tão bonita.'
E ela o domina mansamente, como só a morte tivera o poder, a honra de dominar o Grande Don, Don Corleone.

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