domingo, 26 de julho de 2009

Cores e brilhos, dentro de mim

Como uma convulsão, rápida e violenta. Aproximou-se, e inundou-me, devastadoramente. Alguém falou. E eu? Não entendi, apenas senti. Forte, acanhado, porém, verídico. Sentimento hesitante e extravagante. Paradoxo, complexo. E cá estou eu, abrindo-me com um computador, e com os meus contáveis leitores. Não entendeu? Ainda não? Simples...



Amor.

Apelo

"Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta; bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite e eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor."

Escrito por Danton Trevisan.
Um dos textos que mais gosto. Resolvi postar.